Os Desabefes da Mulher Vitrola

ATENÇÃO: Se um dia estiver navegando na internet e deparar com poás, pin-ups, cerejas, laços, musiquinhas antigas e uma aura magenta, não se impressione. Você está no blog da Mulher Vitrola.

“Mãe, conheci a Mulher Vitrola!” Um dos depoimentos no perfil do Orkut da blogueira Renata Keyko Montenegro, 24 anos, já aponta o sucesso que a marca de sua loja virtual de acessórios femininos faz a quase dois anos na web. Com forte tendência pin-up, os laços, pulseiras, cordões, brincos e bolsas “Mulher Vitrola” tem uma clientela fiel e assídua, que, como no depoimento, contribuem para a confusão entre criador e personagem. Renata é a personificação de sua marca. Mignon, os cabelos num legítimo Chanel, com base desfiada, e maquiagem impecável: delineador, blush rosado e batom vermelho. Combinamos nossa conversa em uma galeria no Arpoador, próxima à temakeria onde trabalha. Rê chega alguns minutos atrasada, pede desculpas, e desata a falar do trânsito, horrível. O 125 pára realmente em todo ponto de Copacabana, um absurdo, não acha? Além disso, Eugênio, o marido-gastrônomo, está viajando. A mãe de Pedro, 3 anos, precisa então se desdobrar nesta semana: além dos cuidados com o rapazinho, começou há pouco tempo um curso de webdesign, que vai durar pouco mais de um ano. Até lá, o horário de trabalho entre um sushi e outro continuará ingrato. Até as duas horas da manhã.

- Que tal começar a entrevista com um lanche?, pergunto.
- Sim, estou faminta. Um pão de batata e um mate, por favor.

Renata usa um vestido preto, echarpe ocre de algodão e bolsa com estampa de super-heroínas. Fica impressionada com o banco que escolhemos, feito de material reciclado. “Adorei”, afirma categoricamente. Estamos próximas de um estúdio de tatuagens, com diversas fotos na entrada. Comento sobre as imagens e pergunto sobre as tatoos que ela fez. São duas: um coração old school com o nome do filho, no braço direito, e duas cerejinhas com um laço, na panturrilha direita. “Ainda quero fazer mais”, promete. Segundo Renata, as cerejas são quase um símbolo. “As pessoas vêem estampas, desenhos com cereja e contam que se lembram de mim. Fico lisonjeada! É muito bom saber que as pessoas reconhecem o meu estilo.”

Estilo é algo que Renata conta ter desde criança. No Ginásio (atualmente, o período compreendido entre o 6° e o 9° ano do Ensino Fundamental), Rê foi sempre aquela amiga que inventava moda. Lembram que há alguns anos os anéis transparentes de acrílico eram febre entre adolescentes? O de Renata era colorido, com bolinhas. Feitas com esmalte. “As meninas queriam um anel igual! Mas ao mesmo tempo em que elogiavam minha criatividade, não tinham coragem para usar as mesmas roupas, acessórios. Coisas que eram tão normais pra mim! Foi quando eu percebi que pensava diferente da maioria das pessoas e decidi fazer algo relacionado à moda.” Ela cursou dois meses de Produção de Moda na FAETEC. Infelizmente, precisou interromper o curso.

Admiração

- Alguém que eu olho e digo “sou eu!” é a Fernanda Young. Ela é minha inspiração, em tudo: tatuagem, estilo, cabelo, maquiagem...

Se, por um lado, a apresentadora influencia o lado moderninho de nossa blogueira, a influência retrô no visual de Renata Keyko é anterior ao resgate dessa tendência nas passarelas e books virtuais. “Para mim foi uma surpresa, pois até alguns anos atrás, eu não tinha acesso à Internet. Quando eu vi, ‘nossa, tem gente com o mesmo gosto que eu!’. Mas só contribuiu para proporcionar mais conhecimento, porque eu já gostava”, explica, emendando uma gíria antiga: “Internet é informação à balde, né?”

Foi através da Internet que Renata descobriu também a expressão que melhor a caracteriza. Neo-retrô. “Foi como uma amiga ‘virtual’ me definiu certa vez. Porque misturo roupas atuais e peças com pegada retrô.” As pin-ups são também uma referência para o estilo e os acessórios Mulher Vitrola. “Elas resgatam a feminilidade de maneira sensual, sem cair na vulgaridade”, acredita a blogueira, que prefere as pin-ups que fazem alusão ao universo doméstico.


ABRE ASPAS: - Eu sou a Mulher Vitrola mas não tenho nada de doméstica! É só a imagem mesmo. Meu marido viajou e eu fiquei à base de miojo! Sou a Mulher Vitrola que não sabe cozinhar! Todo dia, MIOJO! Que vergonha, miojo... - FECHA ASPAS

Músicas e filmes também inspiram Renata. Exemplos? The Strokes, bandas antigas e alternativas, Blondie, uma pitada de Punk e a “exuberância do New Wave”. Entre as produções cinematográficas, ela cita duas: Funny Girl e Bonequinha de Luxo, que é um ícone. “Sempre que eu assisto fico super inspirada. Sempre gostei e assisto filmes antigos. Não é por causa da Mulher Vitrola. A minha mãe diz que nasci na época errada”, afirma, às gargalhadas.


Porta-make Mulher Vitrola

* Pausa para o papo-cabeça (?)

Guarda-Chuva Cultural - O que é moda para você?

Mulher Vitrola - Eu vejo a moda como uma maneira de se expressar. No meu caso, por exemplo, não quero passar desapercebida. Eu gosto de chamar a atenção. Não que eu saio já pensando nisso. É natural. As pessoas comentam, “nossa, como ela é diferente, como ela é fashion...” Para mim, minha forma de vestir é normal. Embora eu tenha consciência de que para muitas pessoas não é tão comum assim.
No fim das contas, moda é expressão mesmo. Você acaba tentando passar para as pessoas o que você é.

GCC - O que é fashion?

MV - Originalidade. Isso é superfashion. Não no sentido de ser totalmente diferente, mas de saber expressar o que você é, por originalidade mesmo, não por fardo.

GCC - Moda é futil?

MV - Não acho. Ser totalmente escravo da moda chega a ser fútil, mas cada pessoa tem um conceito diferente...
Se expressar não é futilidade, porque existem diferentes formas de expressão, como a arte, a música... moda é uma delas.

GCC - Podemos dizer então que moda é cultura?

MV - Eu acho que sim. Porque a cultura é desenvolvida a partir de expressões artísticas e sociais de determinado povo ou pessoa. Está muito relacionada com o querer mostrar, expressar ou marcar um fato.
Moda é a expressão de uma pessoa para outros. Até mesmo se você analisar o comportamento da sociedade em décadas anteriores, é possível identificar determinado período pela roupa da pessoa. “Ah, isso daí é década de 50". Quer dizer, é uma característica marcante, você logo identifica.

* Fim da pausa

O Nascimento da Mulher Vitrola
Do blog para o mundo da moda

No princípio, existia o Smack. “Criado de supetão. Mas o domínio expirou e eu fiquei sem blog”. Algum tempo depois, Renata decidiu criar uma página pessoal “diferente”, com tendências feministas. “Com os meus desabefes, histórias do cotidiano e de outras pessoas. A idéia era que as pessoas me mandassem e-mails e eu daria minha opinião sobre o que elas contassem.” No entanto, apesar de definida a abordagem, ainda não havia um título.

- Queria um nome em português, simples e que refletisse um pouco da minha personalidade. A primeira definição é que teria a palavra “mulher”. A segunda palavra teria que me representar... Foi quando lembrei que durante a minha infância, minha mãe falava assim: “você não para de falar, parece uma vitrola!” Por isso Mulher Vitrola. É a mulher que não para de falar! - diverte-se. A recepção não foi das melhores. Até hoje, muitas pessoas riem quando ouvem o título pela primeira vez. “Mas o nome pegou!”, rebate Renata.

Em paralelo à criação do blog, Renata passou a produzir e vender para conhecidos acessórios para o cabelo, bijuterias e bolsas com estampas de pequenos corações, cerejas, bolinhas e listras, em tons pastéis e muito rosa, com a intenção de “gerar uma grana extra”. Mais tarde, Rê observa que muitas pessoas começam a vender produtos através do Flickr, de fotologs e ela se interessa em expandir os negócios. As mercadorias eram a princípio expostas com o nome de Keyko Arte. Ainda bem que não demorou muito para os clientes-leitores condensarem o nome do blog e da loja virtual em um só. “Estava ficando muito desorganizado e resolvi juntar. Encaixou perfeitamente.”, comemora. O casamento não podia ser melhor: a pegada retrô das peças e o layout pin-up do blog são bastante harmônicos, apesar da nítida separação que Renata define entre a loja virtual e o espaço dos “desabefes”.

- As pessoas conseguem separar a loja virtual do site. Não são dependentes um do outro. O que existe é a Mulher Vitrola. O blog se tornou uma extensão dessa marca. - Apesar de não ter migrado para o mundo real, a loja já está completa. “Tenho-a toda montada em minha mente”, sonha a blogueira, que vende algumas das peças no estúdio “Supermarcados”, em Caxias, e através de encomendas por Flickr e Orkut.

Como loja virtual, a Mulher Vitrola expressa a moda de Renata Keyko. Como blog, é o espaço do cotidiano, de exposição do lado pessoal. Apesar de não conter comentários sobre histórias alheias como previa a idéia inicial, os “desabefes” da Vitrola continuam. “Tem muita nostalgia. São coisas que eu estou sentindo no momento, alguma música que eu tenha gostado... é muito pessoal, é a minha cara”. E define:

- Eu sou totalmente Mulher Vitrola.

Web-pitacos sobre o mundo da moda e temas afins
(ou o outro-mesmo-lado da Mulher Vitrola)

Recapitulando:

* Renata gosta de arte.
- Sou muito voltada para a expressão artística, isso me prende muito. Eu paro na rua para admirar quando vejo qualquer coisa que envolva arte, tenho paixão.

* Também gosta de internet.
- Tenho muita vontade de trabalhar na área de moda e computação. Tanto que o curso de webdesign veio do meu interesse por ferramentas da Internet, embora eu já tivesse alguns conhecimentos básicos que aprendi sozinha.

A união de interesses e habilidades, aliada ao autodidatismo, a levaram a criar o blog Ai Meu Dior!, que faz uma crítica bem-humorada sobre a moda dos famosos. “Quando um famoso saía na mídia com alguma roupa que chamasse minha atenção, eu amava ou odiava excessivamente”, conta Renata Keyko, explicando que o site está bastante desatualizado. “Quase ninguém conhece e eu tenho uma dificuldade absurda em matar meus blogs”, ri.

A atuação bloguística de Renata Keyko tem sido recompensada com convites para colaboradora em blogs de marcas reconhecidas vinculadas à moda, como a Ilhabela e a Capricho. O projeto de relacionamento com consumidoras Queens Ilhabela, desenvolvido pela empresa de sandálias vinculada à Grendene, selecionou meninas de todo o país para contribuir com o Blog das Queens no site http://www.universoilhabela.com.br/. A princípio, apenas 100 garotas foram convidadas a participar do projeto, que teve início em 2008. Renata estava entre elas e representou a marca, como Fashion Hunter, em um evento da revista Capricho chamado NoCapricho, realizado no Rio de Janeiro em julho do mesmo ano. [Nota do GCC: Cinthia Pascueto, autora deste post, também faz parte do projeto Queens e conheceu Renata durante este mesmo evento. Foi “Repórter Illhabela”].



Não por acaso, foi também selecionada para participar, ao longo de 2009, de um projeto da revista Capricho chamado “Tudo de Blog”, no qual 30 blogueiras são selecionadas para escrever a cada quinzena sobre um assunto especificado pela revista sobre atualidades, moda, comportamento, entre outros. As três melhores de cada período são publicadas. “As pessoas perguntam até se eu não saio da internet... mas eu faço outras coisas também”, brinca Renata.

O que cabe no Guarda-Chuva da Mulher Vitrola?

MV - FFFFound - é um site que eu gosto muito e visito sempre, um refúgio toda vez que não tenho inspiração. É de imagens e sempre tem muita coisa bacana. Você encontra ali imagens de todo tipo: voltado para o retrô, para o moderno... Está no topo dos meus favoritos.


3 comentários:

Unknown disse...

Eu também conheço a Mulher Vitrola, a Rê é uma pessoa incrível, de verdade!

Anônimo disse...

Adooooooooooooro o MV!!!

Cristina Gusmão disse...

Que máximo achar uma matéria sobre a Key. Fiquei super orgulhosa. Conheci a Renata através de um curso de moda na Faetec. Ela saiu e eu sinto muita falta dela. Ela é mesmo muito fofa!!!
Parabéns Key. Mais e mais sucesso pra vc.
Beijos Krica

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