Sobre as pessoas legais que a gente conhece

Tem gente que vive fazendo arte, transmutando vida em arte, achando arte até mesmo no preto e branco do cotidiano. O Taiyo é assim. Tem 20 anos e, já há muito tempo, alimenta-se de poesia. Começou a escrever quando descobriu as meninas. O olhar infantil passava a adolescente. Aos 12, encantou-se por Fernando Pessoa. E, desde 2008, mantém um blog com mais de 300 poemas publicados. Taiyo Omura, menino dos olhos puxadinhos, é meu companheiro de estágio na Ancine (Agência Nacional de Cinema). Estuda cinema na UFF e música na UNIRIO. Faz teatro e escreve. Escreve com uma facilidade absurda.

− Meu primeiro guia de poesia foi o papelzinho das balas "ice-kiss". Aquilo me guiou, norteou a minha escrita. Mas a mudança mesmo foi aos 10, 11 ou 12, por aí, quando estava numa livraria e, impulsivamente, pedi pra minha mãe comprar o pocket-book do Fernando Pessoa. Vê se pode... Ler Pessoa com essa idade é estranho. Não estou me gabando aqui, até porque não entendia o que lia. Mas um sentimento ficava dentro de mim, como se eu fosse um dia usufruir melhor aquilo. A semente foi plantada ali − conta.

Hoje, Taiyo escreve quase todos os dias. Para ele, inspiração é apenas exercício. Se você exercita-se diariamente, seus sentidos ficam mais aguçados, num alerta constante sobre o cotidiano, e a vida vai se mostrando mais como poesia. Dica de quem acredita que escrever é mole. Tão mole que quer fazer uma porrada de livros. E o primeiro já sai agora no mês de agosto como comemoração de um ano de vida do blog.

Teatro de Improviso

O mais legal no Taiyo é que sua arte não está somente na poesia. Aos 10 anos, ele ingressou, pela primeira vez, no mundo do teatro. Numa aulinha na própria escola, encarnou o papel de "relâmpago", correndo de um lado para o outro no palco. Depois disso, não fez quase nada até o dia em que, anos mais tarde, conheceu o teatro de improviso.

− O IMPRO é a improvisação mais radical. É a criação de histórias, narrativas improvisadas, sem nenhuma combinação prévia, coletivamente, com sugestões do público. Tem um trabalho de dramaturgia, de roteiro, contar histórias, início, meio e fim, clímax, personagens. A história é que manda. Não é voltado para a piada. Não se vende fácil a piada. A graça está na própria construção "ao vivo" da história. Exige estudo de narrativa, e principalmente, aceitação, trabalho em grupo, sinergia. É um barato. Minha cachaça. Devia ser ensinado nas escolas públicas − revela ele que hoje está no quinto período de cinema e terceiro de música.

Conforme Taiyo explica, o IMPRO surgiu na Inglaterra com o dramaturgo Keith Johnstone. Johnstone era professor e passou a empregar o método nas escolas em que lecionava. Lá, ele entregava cadernos aos alunos, que escreviam o que desejassem para depois ler em voz alta. Mais tarde, o processo foi se desenvolvendo e os alunos começaram a encenar as histórias. Por volta dos anos 70, Johnstone foi para o Royal Court Theatre, em Londres. Foi aí então que o teatro de improviso começou de verdade. O dramaturgo queria um teatro menos careta, onde o público participasse e gritasse, como numa luta livre. Criou, assim, o Teatro-Esporte. Times competiam pela melhor história improvisada com sugestões do público, que escolhia a vencedora.

− O Keith foi estudando como uma cena improvisada podia ficar boa, os elementos e as características que os jogadores precisavam ter. Ele foi esmiuçando tecnicamente a improvisação até chegar em questões básicas. A primeira é obviamente: ACEITE. Se você entrar em cena, sem definir quem ou o quê é, e eu entrar e disser "Oh, meu deus! O leão fugiu da jaula!" e apontar pra você, VOCÊ É O LEÃO. É um estudo que vale para tudo na vida. Ensina a viver melhor.

Em IMPRO, Taiyo já participou de vários espetáculos, como, por exemplo, o Campeonato Carioca de IMPRO, o TEATRO DO NADA, os IMPROVINSANOS e os IMPROSSÌVEIS. Entre esses, no entanto, atuou apenas no Campeonato e nos IMPROVINSANOS. Nos demais, tocava ao vivo, improvisando a própria música.

− Todos são muito interessantes e divertidos. Depois que as pessoas descobrem esses espetáculos, a idéia de teatro muda. É um outro caminho − conclui ele que é a multi-referencialidade artística em pessoa.

E a gente só agradece por conhecer pessoas assim.



Hey ho, let's go!

Esse guarda-chuva que vos fala nasceu em uma certa aula de Jornalismo Cultural. Sua gestação começou ainda no início do período. A princípio, as dez mãos que aqui escrevem acharam bem bacana a idéia de falar das manifestações culturais das quais quase nunca, ou nunca mesmo, se fala na grande imprensa. Tempo passando, o projeto ficou esquecido na gaveta da memória.

E foi ser relembrado em momento tenso: final de período. É, precisávamos abrir o guarda chuva. Mas aí cada um fez uma crítica diferente àquela idéia inicial e, por pouco, ela não vinga. Cinco cabeças pensantes, sem dúvidas, criam mais do que uma. Porém, brigam. E como brigam... Acertados todos os ponteiros, quem ganhou foi o guarda chuva. Pois aqui está ele, pronto tanto para dilúvio quanto para garoa de fim de tarde.

Nosso guarda-chuva pretende reunir diferentes gostos e idéias, sem muitas pretensões. Sabe aquela banda que tem um som maneiro e quase ninguém conhece? Ou aquele poeta que ainda não virou Drummond? Cá neste blog, eles ganham espaço. Em uma linguagem descontraída, queremos fazer caber de tudo por aqui, faça sol ou faça chuva.

Ps.: Você também pode contribuir. Se conhece alguém com um trabalho legal e que esteja a fim de divulgação, é só entrar em contato com a gente. Pode ser por sinal de fumaça ou por esse e-mail aqui:
guardachuva.cultural@gmail.com. Diz aí o que cabe no seu guarda-chuva cultural!