Ator na corda bamba

Festas, fama, glamour, luxo e dinheiro. Não, esta não é nenhuma espécie de lema para patricinhas. Isso é o que muita gente acha que vai conseguir facilmente se tornando ator. Mas Rômulo Pacheco, estudante de Artes Cênicas - Teoria do Teatro da Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (Unirio), é pé-no-chão. Sabe que ator tem que ralar muito para enfrentar as agruras e a instabilidade da profissão. “O glamour se dilui quando se conhece realmente a profissão. Você faz um trabalho durante seis meses e, quando acaba, está desempregado até fazer outra coisa. Além disso, não se ganha dinheiro, com algumas exceções, de uma hora para outra. É uma carreira construída com o tempo”, afirma.

Atuando desde os 16 anos, mas profissionalmente só cinco anos depois, Rômulo começou a pensar na possibilidade de estudar mais a fundo a dramaturgia e técnicas de escrita teatral. Fez o vestibular da Unirio e passou. Hoje, aos 33 anos, está no quarto período do curso e dribla os contratempos para conciliar trabalhos com os estudos em horário integral. “As aulas começam uma hora da tarde e terminam, às vezes, às dez da noite. Então, fica difícil para conciliar com outros trabalhos, mas não posso parar de trabalhar”, diz.

É, vida de ator é dureza mesmo, ainda mais em um mercado de trabalho no qual a formação acadêmica não é determinante para garantir um emprego. Consciente disso, Rômulo acredita que a universidade lhe dará uma visão mais ampla, servindo mais para aprimorá-lo como artista do que lhe proporcionando estabilidade profissional. “Não é assim, se formou e entra direto no mercado de trabalho. Isso independe completamente. Para os atores, não há uma ligação direta, prática e objetiva entre a academia e o mundo lá fora”, explica. Foi por causa disso, inclusive, que os pais de Rômulo tiveram certa dificuldade para aceitar a profissão escolhida pelo filho. “Eles vêm de profissões executivas. O universo do teatro é completamente diferente do que eles dominam, por isso não é fácil entender.”

Em breve, Rômulo vai lançar alguns filmes de curta-metragem e fazer leituras dramatizadas de peças de teatro que, com certeza, vão entrar debaixo do meu guarda-chuva cultural.

Debaixo da lona cultural

Todo mundo que mora no chamado subúrbio das zonas norte e oeste, assim como eu, sabe que não é só para tomar banho de mar que o povo suburbano precisa se despencar para o outro lado do Rio de Janeiro. É como se a praia tivesse um imã que atraísse para a zona sul e região da Barra da Tijuca a maior parte da oferta de entretenimento na cidade. Palavra de quem entende o que está falando por experiência própria.

É por isso que, se meu guarda-chuva cultural tivesse mãos, ele certamente bateria palmas para as lonas culturais. Criadas pela Secretaria Municipal de Cultura para multiplicar o acesso à cultura e descentralizar a produção cultural, as dez lonas cariocas oferecem à população espetáculos de música, teatro, dança, poesia e cinema, além de cursos e oficinas. Tudo a preços populares. E engana-se quem pensa que a programação das lonas não é atrativa. Cada vez mais figuras conhecidas estão se apresentando nesses espaços. Para quem reside próximo às lonas, é uma excelente opção de lazer e cultura sem ter que se preocupar com grana e transporte.

Mas, em janeiro deste ano, a Secretaria Municipal de Cultura e a Defesa Civil anunciaram a interdição de quatro lonas para obras. Devido ao mau estado de conservação e problemas na estrutura, as lonas de Realengo, Anchieta, Guadalupe e Complexo da Maré ficariam fechadas até que a manutenção fosse concluída, o que deveria acontecer em quatro meses. Deveria, porque não aconteceu. O edital das obras sofreu um atraso e a situação continua na mesma.

Nessa história, a boa notícia é que a Lona Cultural Gilberto Gil, em Realengo, não está interditada! Sim, quando foram divulgadas quais lonas seriam fechadas, um equívoco fez com que ela fosse incluída na lista. De acordo com Darlene Carvalho, que faz parte da equipe que administra a lona, uma avaliação detectou infiltrações, mas os reparos foram feitos em apenas uma semana, no mês de janeiro, sem que as atividades precisassem ser paralisadas.

No Orkut, a notícia da interdição gerou um certo pânico nos frequentadores da lona, justamente pela possibilidade dos shows que já estavam agendados serem cancelados. Alguns chegaram a procurar a administração, pessoalmente ou por telefone, para esclarecer o que aconteceria dali para frente.

Alô, alô, Realengo! Aquele abraço!

Segundo Darlene, a Lona Cultural Gilberto Gil, inaugurada em 30 de maio de 1998, proporciona um ambiente bastante familiar aos freqüentadores. “Pais e mães trazem os filhos para assistir a artistas que eles gostavam quando eram jovens”, conta. Além disso, o clima intimista gera satisfação tanto para quem está se apresentando quanto para o público. “A receptividade é muito grande, dos dois lados. Ao final do espetáculo, os artistas sempre recebem as pessoas no camarim para conversar e tirar fotografias, e essa troca é muito legal.”

O único dia da semana em que a lona tem uma programação fixa é o domingo, sempre dedicado a espetáculos teatrais infantis. Nessas ocasiões, a lona abre as portas ao seu público mais cativo, os pequenos, chegando a receber cerca de 400 pessoas em cada apresentação. Nos outros dias da semana, as atrações são as mais variadas possíveis. As musicais, por exemplo, vão do rock ao forró, passando pela MPB.

A lona também oferece oficinas de teatro, capoeira, balé clássico, violão, jazz, street dance, ginástica para a terceira idade e tai-chi-chuan. As atividades acontecem duas vezes por semana e começam sempre após o Carnaval, indo até dezembro. Mas, como são oficinas, não é necessário participar desde o início. É cobrada apenas uma mensalidade de R$20 e não são exigidos pré-requisitos aos participantes.

Para Darlene, a Lona Cultural Gilberto Gil, assim como todas as outras, têm importância sócio-cultural e representam uma conquista para as regiões onde estão instaladas. Fatores como preços populares e proximidade contribuem para o sucesso da lona, embora uma enquete realizada pela própria equipe de administração mostre que cerca de 50% dos freqüentadores são moradores de Realengo e adjacências, e os outros 50% de diversos bairros do Rio de Janeiro. “O principal fator atrativo é mesmo a cultura, principalmente onde não há muitas opções”, finaliza.

Música + poesia + dança = Engenhoca!

Não seria legal reunir em um evento várias manisfestações artísticas, de diferentes tipos e gêneros em um só lugar, em um só momento? Imagine um espaço em que músicos, poetas e outros artistas das mais variadas vertentes pudessem expor seus trabalhos e trocar experiências. Essas mesmas ideias passaram pela direção do Sesc (Serviço Social do Comércio) de Engenho de Dentro, na zona Norte do Rio, há mais de dois anos, quando resolveram criar o Engenhoca: um evento mensal, que reúne bandas underground, poetas independentes e até companhias de dança, um tipo de arte ainda pouco difundida, se comparada às milhões de bandas de garagem que pipocam toda semana por toda a cidade.

Como projeto, o Engenhoca já existe há algum tempo, inspirado inclusive em eventos mais antigos, como o Geringonça, do Sesc Tijuca, concebido pela equipe do Sesc pra funcionar como uma janela pra novos talentos. Mas o evento engrenou mesmo quando o frontman/guitarrista/cantor/apresentador Wagner José decidiu apresentar o projeto Novo Bando à equipe. A ideia de um projeto audiovisual surgiu para dar suporte à sobrevivência de sua banda Wagner José e Seu Bando que leva um som que ele admite não estar na “crista da onda”: um pouco dos “bons e caquéticos Rock & Blues”, como se definem no MySpace. “O Novo Bando era um projeto de TV, algo como um programa de auditório. O Sesc gostou da ideia e eles me chamaram pra tocar o barco do Engenhoca, acharam que eu tinha o perfil da coisa”, conta Wagner. Hoje, o programa Novo Bando tem espaço no canal 6 da NET, que deve exibir, inclusive, a entrevista feita pra essa matéria, enquanto rolava música no palco do Sesc.

Num cenário em que eventos de bandas covers se proliferam e lotam clubes, o Engenhoca se destaca por valorizar o trabalho autoral das bandas, geralmente deixado na gaveta para abrir espaço no repertório pras canções consagradas, aquelas que costumam animar mais o público. Apesar de exigir dedicação e tempo pra elaborar os eventos, que acontecem todo último sábado do mês, estar à frente do Engenhoca não impede Wagner José de continuar a tocar Seu Bando, pelo contrário. “Pra mim, isso é muito bacana, porque além de ter a minha banda, também faço esse papel de agente divulgador de novas bandas. Isso só engrandece meu trabalho, as pessoas acabam associando minha imagem ao evento”, conta Wagner.

Sábado: dia de Engenhoca

No último sábado, 28, rolou Engenhoca lá no Sesc e o Guarda-Chuva estava lá, claro. A maioria das apresentações, talvez até refletindo o cenário cultural do underground carioca, era de bandas de rock, mas o desavisado que estivesse por lá ia se surpreender ao ver a banda XL ser sucedida pelo grupo de dança Reflexos, não sem antes abrir o espaço pro jovem poeta Vinícius. O show, liderado pela vocalista Gisele (sacaram a jogadinha dos nomes da banda e da vocal?), deu certo e envolveu o público que, apesar de sentado, interagia com a galera no palco. A única surpresa foram as músicas em inglês, não custava nada dar um valorzinho à nossa língua natal. Salvaram as linhas de bateria e a harmonia no povo das cordas, que mandaram muito bem.

No final do show, o lado animador de TV de Wagner José se permitiu uma minientrevista com Gisele, ainda no palco, que falou das músicas próprias, do seu projeto da rádio online e de seu estúdio, instalado num inusitado trailer.

Enquanto o pessoal da XL guardava os equipamentos, era a vez do poeta Vinícius se expressar. “Certeza” era o tema da poesia. Antes de começar ele pede: “seria legal ter a atenção de vocês pra ouvir essa obra...”, mas completa: “ou não, vocês que sabem”. O público parece escolher a segunda opção, mas de qualquer forma, a apresentação de poucos minutos é registrada pela câmera do Novo Bando, que não perde nada.

Era hora de dançar. O espaço dado ao grupo Reflexos foi o mesmo das bandas, cerca de meia hora. O grupo dançava ritmos brasileiros, terminando ao som do clássico “Suíte dos Pescadores”, de Doryval Caymmi. Relaxante, uma sensação de contraste com o som meio pós-grunge da XL. Os aplausos foram os mesmos.

Vale a pena abrir o guarda-chuva para: Wagner José e Seu Bando

"Estou na Garagem do Faustão"

“Cinthia, já viu minha música? Estou na Garagem do Faustão.” Há alguns meses, Vitor Dulfe, 27 anos, músico, compositor e webdesigner do Museu de Astronomia e Ciências Afins (MAST), local onde eu trabalho, me enviou o link para o vídeo que ele postou no concurso promovido pelo programa Domingão do Faustão. Assim, quando surgiu a proposta do Guarda-Chuva Cultural, interrogando o que caberia sob minha sombrinha rosa e rendada, logo lembrei de algumas pessoas - entre elas, Vitor. Afinal de contas, não é em qualquer local de trabalho que a conversa paralela gira em torno de novos shows, estúdios particulares e inclui frases como “sabe aquela música que eu estava fazendo?”

Confiram agora a entrevista com o concorrente à Garagem do Faustão. E aí, será que ele conquista o público?

Guarda-Chuva Cultural - Quem é Vitor Dulfe?
Vitor Dulfe - Como profissional, levo tudo na seriedade, sou muito perfeccionista. Música é o trabalho da minha vida, então tem que estar perfeito. E eu só trabalho com arte. Se não é música, é imagem.

GCC - Como surgiu seu interesse pela música?
VD - Na minha família não tinha músico. O único que eu soube, que tocava muito bem um violãozinho, era o avô da minha avó. Eu morava em um lugar muito pobre, em um morro de Guadalupe. Num lugar como esse, não tem acesso à música, teatro, cinema, nada. Então foi uma coisa meio predestinada mesmo.
Descobri a música de uma forma engraçada. Na minha época, as crianças tinham um estojo que vinha com um tecladinho. Eu, com seis anos de idade, assistia propagandas e tocava os jingles no estojo, de ouvido. Minha mãe achou isso legal e começou a investir. Fiz aulas de piano clássico dos 8 aos 11 anos de idade. Eu sempre tive muito jeito. Meu irmão mais novo, por me ver tocando, também queria aprender algum instrumento. Ele fez aulas de bateria, flauta transversa...só de observar, eu aprendia também. Pra você ver como é aptidão mesmo.

GCC - Você chegou a montar alguma banda infantil nessa época?
VD - Não foi possível montar uma banda. Todo mundo queria ficar na rua soltando pipa, enquanto eu era “o” diferente. Por isso, eu larguei a música por um bom tempo. Até que fui para São Gonçalo.

GCC - Por que São Gonçalo?
VD - São Gonçalo é conhecida como a cidade dos músicos. Até por coincidência, São Gonçalo é um santo músico. Lá, em cada esquina, você encontra um músico. Aí me apaixonei pela cidade. Lá, eu fiz dois amigos, o Márcio e o Marcelo, que tocavam violão. Por acompanhá-los, voltei para a música e comecei a aprender com eles a tocar violão, lendo revistinha cifrada.

GCC -Quantos instrumentos você toca?
VD - Profissionalmente, eu toco violão e guitarra. Mas sou também clarinetista. Toco teclado, piano...mas música não é que nem bicicleta, né? Sem prática você esquece. Eu lembro apenas o básico do piano. Além de cantar.

GCC - Que diferente! Clarinetista?
VD - O engraçado é que clarinete é um instrumento clássico, né? Aprendi esse instrumento porque queria fazer um segundo grau legal, mas a minha família não tinha condições para pagar um bom colégio. Então corri atrás de alguma escola que tivesse uma banda e pudesse me ensinar algum instrumento clássico – sabia que tinham escolas que davam bolsas de estudos. Então entrei para a Escola Municipal Castelo Branco, que tinha uma orquestra de graça. Estudei seis meses lá para aprender clarinete. Depois disso, fiz um teste para um colégio particular de São Gonçalo e passei com bolsa de 100%. Fiz todo o segundo grau de graça. Eu pensei: é o dom que eu tenho, a facilidade que eu tenho, então vou explorar isso para ter um bom estudo.

GCC - Você também fez propagandas, não é mesmo?
VD - Já fiz jingle para empresas...eu gravava todas as vozes, da grave à aguda. É legal por desenvolver diferentes estilos de trabalho vocal. Às vezes tinha que fazer uma gravação engraçada, como uma propaganda para supermercado, em outras uma coisa mais séria...Ali você tem que ser um cantor e ao mesmo tempo um personagem. Mas tem muito tempo que eu não faço. Na época, eu tinha 20 anos. Ganhava mais tocando que produzindo jingle.

GCC - Com que idade começou a tocar profissionalmente?
VD - Comecei profissionalmente como músico aos 17 anos. Uma cantora precisava de um violonista pra tocar na noite e comecei a acompanhá-la. Nisso, um músico vai conhecendo o outro, convidando para tocarem juntos e assim vai. Até que me tornei profissional e montei a minha banda, aproveitando os contatos que eu já tinha quando fazia violão e voz.

GCC - Qual a sua banda atual?
VD - Atualmente, estou na banda Kárdia, formada há pouco tempo em parceria com um amigo. O Gláucio (Nunes, vocalista) estava saindo da Quark e eu desmontando a minha, chamada Radar, que durou sete anos. Nós tocamos juntos em uma banda anterior e todos sempre elogiavam nossa parceria. Tivemos então a idéia de montar de novo a nossa banda. Chamei dois caras que conheci num freelancer há sete anos e queriam trabalhar comigo. Ficou perfeito agora, é o trabalho dos sonhos. Essa é a Kárdia.

GCC - O que significa Kárdia?
VD - É uma invenção minha. Como 90% das minhas são românticas, eu queria um nome que fosse ligado a sentimento. Kárdia é uma palavra grega, do período antes de Cristo, que significa coração. Hoje representa uma área próxima ao estômago ou algo assim. Mas antes era coração o que, para mim, é como música: sentimento, tempo, pulsação, ritmo.
Kárdia é sentimento, que é o que eu componho.



GCC - Qual a formação da Kárdia?
VD - Gláucio Nunes, no vocal; Diogo Feitosa é o baterista; Cadu Evans, baixista; Rodrigo Pelot na guitarra e eu, Vitor Dulfe, no violão, guitarra e vocal.

GCC – Em quantas bandas você tocou?
VD - Já toquei em 4 bandas, fora participações freelancer.

GCC – Quantas músicas já compôs?
VD - Devo ter umas cinquenta músicas. Isso porque é esporádico. 90% das músicas que faço contam sobre a minha vida. Mas de maneira abstrata, para que ninguém entenda exatamente o que está acontecendo.

GCC -Por que você prefere tocar com banda, em vez de investir apenas na carreira solo?
VD - Todo mundo fica perguntando porque eu não faço só violão e voz. É porque eu não gosto de tocar sozinho. Posso estar cantando e tocando, mas vou chamar um baterista. Ou eu só toco e arranjo alguém para cantar. Sou carente (risos).

GCC – Então por que resolveu se inscrever na “Garagem do Faustão”?
VD - Eu me dediquei muito à Radar, vivi para ela o tempo inteiro. Mas nunca me vi como cantor. Quando eu saí da banda, fiquei sem chão, sem ter com quem tocar. Fazia um “freela” o outro, mas não tinha a identidade de uma banda. Até que as pessoas começaram a perguntar “por que você não investe no vocal?”
A minha primeira manifestação como cantor foi a inscrição na primeira edição de “Ídolos”. No fim das contas, entre todos os amigos que se inscreveram, apenas eu passei nas três primeiras eliminatórias. Mas na quarta fase achei tão ridículas aquelas seleções, com gente indo fantasiada, cantando feito idiota e passar, que eu não fui mais. Achei uma babaquice.
Três anos depois veio a Garagem do Faustão. Fiz a inscrição com meu trabalho solo, porque tenho muita música romântica além das pop’s. É tanta gente falando para eu gravar um CD que resolvi fazer isso. Tenho um estudiozinho em casa e gravei as músicas com violão e voz. Fiz todas as vozes e violões. Ficou a minha cara. Ainda estou gravando, vamos ver se a gente fecha um cd aí.

GCC – “Ídolos”, “Garagem do Faustão”... Quais as suas expectativas ao participar desses programas?
VD - Eu não espero nada da Garagem do Faustão. A inscrição foi por influência da minha família, que me dá o maior apoio. Mas eu me decepcionei muito com o programa. Porque o que ganha são as palhaçadas, enquanto tem muita banda com um trabalho sério - e eu não estou nem falando da minha, tem muitas bandas melhores. Por isso eu nem acompanho. Apesar de tudo, acho que é uma vitrine bacana. Tanto que uma cantora participante do programa vai ter uma música na novela. E isso eu acho bacana, porque todo mundo fala que minha música tem cara de novela.
O importante é abrir a porta da mídia e depois manter. Se eu puder fazer isso com meu trabalho solo, depois consigo abrir outra para minha banda, que é meu objetivo.

GCC – Quais são suas influências musicais?
VD - Gosto muito do rock inglês e irlandês. Muitas das bandas que eu curto não são nem conhecidas no Brasil. Sou um caçador de músicas novas, ouço muito a rádio de outros países pela internet. O Som da Kárdia, inclusive, é um pop muito parecido com o lá de fora - não tanto com o daqui. Não é uma banda “emo” ou “Paralamas” (do Sucesso). Está mais próxima de U2, Nine Days, Fuel.

GCC - O que é fama pra você?
VD - Eu não quero fama. Quero meu trabalho reconhecido. Como a Marisa Monte, Nando Reis e Zélia Duncan, que não precisam aparecer na televisão para isso.
Eu quero ter sucesso no meu trabalho. Ter fama seria ótimo, eu ia adorar dar autógrafo, ter a mulherada em cima (risos)... Mas não faço questão desse alarde. Eu gostaria de poder viver do meu talento.


GCC – O que você faria se fosse famoso?
VD - Se um dia eu fizesse um show e visse todas aquelas pessoas cantando a minha música, eu não ia agüentar. Teria que sair do palco e choraria de emoção. Mas não faço questão nenhuma de aparecer no Faustão. Queria sim, que minha música tocasse nas rádios.
Se bem que não existe banda com músicas conhecidas que seja “anônima”. Ainda mais que no caso da Kárdia. Nosso trabalho é muito pop, o que poderia alcançar de forma fácil todas as classes. Então estaria no Faustão, no Gugu, nesses programas todos. Mas isso é conseqüência.

GCC - O que a música representa pra você?
VD - Se eu pudesse, viveria apenas de música. Entretanto, quero ter meu carrinho, ter meu dinheiro para o fim de semana. Viver de música é muito instável e complicado. Eu estou numa época fantástica. Mas tenho amigos músicos que às vezes estão ótimos financeiramente e em outras sem ter onde trabalhar.
A música é uma cultura universal, não tem quem não goste de música.

GCC - O que é cultura?
VD - A cultura depende de onde você está, dos costumes, regiões. Cultura é tudo. É adaptação ao lugar onde você vive.

GCC - Mainstream ou Underground?
VD - Meu trabalho é totalmente comercial. São letras fáceis, refrões fáceis, totalmente vendáveis. Mas bem-feito. Tanto meu trabalho solo quanto a Kárdia. Não há duvidas.

GCC - No Guarda-Chuva de Vitor Dulfe cabe...
VD - Nine Days é uma ótima banda pop inglesa, que era pra estar tocando por aqui.
Outra banda que gosto muito e influenciou demais o meu trabalho chama-se Vertical Horizon. Essa é a banda que deu o empurrãozinho para criar o meu trabalho e definir meu estilo musical.


Quem tiver se interessado em conhecer mais sobre a banda KARDIA pode conferir algumas músicas no Trama Virtual ou dar uma passadinha no My Space. O Vitor só contou dias depois da entrevista que está com a galera do KARDIA no concurso "Olha a minha banda" no Caldeirão do Huck. Nessa brincadeira, ele assume o vocal.

Depois vem contar pra gente o que você achou.

E aí? O que cabe no seu guarda-chuva?

Música de Vó


“Chega pra cá, vem ouvir mais de perto
a banda Vó Ruth num papo sincero
diretamente da Baixada Fluminense.”
(Versos de Pipa e Violão)

A galera da Vó Ruth faz uma baita de uma mistura. É reggae. É pop-rock. É hardcore. Tudo isso para chegar num ritmo que eles dizem ser invenção própria: o Baixada Rock Reggae. Baixada, porque é lá que a banda surgiu. E rock reggae, bom, aí o nome já diz. E as músicas também. Nessa miscelânea, a trupe do vocalista Zé Mambaia mostra um som novo. Se não fosse a levada de rock, eles poderiam passar despercebidos como cover do Natiruts. Se não fosse a pitada de reggae, dava até para dizer que seria mais um NxZero da vida.

Nas melodias, que podem ser baixadas gratuitamente no site da banda, dá para notar tanto uma pegada mais pesada, quanto batidas mais suaves. As letras também intercalam crítica e diversão, tudo em um tom engraçado e descontraído. Enquanto umas falam de sol e mar, as outras fazem reivindicações. Afinal, eles querem fazer cultura e vão se acostumar a serem diferentes, tudo isso dito assim como se fosse rap. É, mais um ritmo apropriado pela Vó Ruth.

Parece arriscado misturar tanto. Mas não é que a música dos caras cola na cabeça? Tanto que na comunidade do Orkut já são cerca de 2.397 membros. Além disso, eles já abriram show para gente grande, como Marcello D2 e detonautas. Eu confesso, por esses dias, enquanto ouvia o som direto no mp3, me peguei cantando o “tudo bem, a gente não incomoda ninguém” da mais nova canção Preta Loira, que ganhou até versão em espanhol.

Vó de quem?

Antes de ser a Vó Ruth de hoje, a banda tocava rock e tinha letras cômicas, o que já era de se esperar para um grupo chamado Los Cocôs Parrudos. Em 2001, os meninos resolveram homenagear sua fã nº 1, a vovó do Zé, falecida naquele ano. A partir daí, a coisa ficou séria. Eles entraram de cabeça no projeto, buscando um som mais bacana. Atualmente, a formação da trupe conta com Diego Ratto, no baixo, Guto Perereca, na guitarra, e Fernando Jack, na bateria.

Os Desabefes da Mulher Vitrola

ATENÇÃO: Se um dia estiver navegando na internet e deparar com poás, pin-ups, cerejas, laços, musiquinhas antigas e uma aura magenta, não se impressione. Você está no blog da Mulher Vitrola.

“Mãe, conheci a Mulher Vitrola!” Um dos depoimentos no perfil do Orkut da blogueira Renata Keyko Montenegro, 24 anos, já aponta o sucesso que a marca de sua loja virtual de acessórios femininos faz a quase dois anos na web. Com forte tendência pin-up, os laços, pulseiras, cordões, brincos e bolsas “Mulher Vitrola” tem uma clientela fiel e assídua, que, como no depoimento, contribuem para a confusão entre criador e personagem. Renata é a personificação de sua marca. Mignon, os cabelos num legítimo Chanel, com base desfiada, e maquiagem impecável: delineador, blush rosado e batom vermelho. Combinamos nossa conversa em uma galeria no Arpoador, próxima à temakeria onde trabalha. Rê chega alguns minutos atrasada, pede desculpas, e desata a falar do trânsito, horrível. O 125 pára realmente em todo ponto de Copacabana, um absurdo, não acha? Além disso, Eugênio, o marido-gastrônomo, está viajando. A mãe de Pedro, 3 anos, precisa então se desdobrar nesta semana: além dos cuidados com o rapazinho, começou há pouco tempo um curso de webdesign, que vai durar pouco mais de um ano. Até lá, o horário de trabalho entre um sushi e outro continuará ingrato. Até as duas horas da manhã.

- Que tal começar a entrevista com um lanche?, pergunto.
- Sim, estou faminta. Um pão de batata e um mate, por favor.

Renata usa um vestido preto, echarpe ocre de algodão e bolsa com estampa de super-heroínas. Fica impressionada com o banco que escolhemos, feito de material reciclado. “Adorei”, afirma categoricamente. Estamos próximas de um estúdio de tatuagens, com diversas fotos na entrada. Comento sobre as imagens e pergunto sobre as tatoos que ela fez. São duas: um coração old school com o nome do filho, no braço direito, e duas cerejinhas com um laço, na panturrilha direita. “Ainda quero fazer mais”, promete. Segundo Renata, as cerejas são quase um símbolo. “As pessoas vêem estampas, desenhos com cereja e contam que se lembram de mim. Fico lisonjeada! É muito bom saber que as pessoas reconhecem o meu estilo.”

Estilo é algo que Renata conta ter desde criança. No Ginásio (atualmente, o período compreendido entre o 6° e o 9° ano do Ensino Fundamental), Rê foi sempre aquela amiga que inventava moda. Lembram que há alguns anos os anéis transparentes de acrílico eram febre entre adolescentes? O de Renata era colorido, com bolinhas. Feitas com esmalte. “As meninas queriam um anel igual! Mas ao mesmo tempo em que elogiavam minha criatividade, não tinham coragem para usar as mesmas roupas, acessórios. Coisas que eram tão normais pra mim! Foi quando eu percebi que pensava diferente da maioria das pessoas e decidi fazer algo relacionado à moda.” Ela cursou dois meses de Produção de Moda na FAETEC. Infelizmente, precisou interromper o curso.

Admiração

- Alguém que eu olho e digo “sou eu!” é a Fernanda Young. Ela é minha inspiração, em tudo: tatuagem, estilo, cabelo, maquiagem...

Se, por um lado, a apresentadora influencia o lado moderninho de nossa blogueira, a influência retrô no visual de Renata Keyko é anterior ao resgate dessa tendência nas passarelas e books virtuais. “Para mim foi uma surpresa, pois até alguns anos atrás, eu não tinha acesso à Internet. Quando eu vi, ‘nossa, tem gente com o mesmo gosto que eu!’. Mas só contribuiu para proporcionar mais conhecimento, porque eu já gostava”, explica, emendando uma gíria antiga: “Internet é informação à balde, né?”

Foi através da Internet que Renata descobriu também a expressão que melhor a caracteriza. Neo-retrô. “Foi como uma amiga ‘virtual’ me definiu certa vez. Porque misturo roupas atuais e peças com pegada retrô.” As pin-ups são também uma referência para o estilo e os acessórios Mulher Vitrola. “Elas resgatam a feminilidade de maneira sensual, sem cair na vulgaridade”, acredita a blogueira, que prefere as pin-ups que fazem alusão ao universo doméstico.


ABRE ASPAS: - Eu sou a Mulher Vitrola mas não tenho nada de doméstica! É só a imagem mesmo. Meu marido viajou e eu fiquei à base de miojo! Sou a Mulher Vitrola que não sabe cozinhar! Todo dia, MIOJO! Que vergonha, miojo... - FECHA ASPAS

Músicas e filmes também inspiram Renata. Exemplos? The Strokes, bandas antigas e alternativas, Blondie, uma pitada de Punk e a “exuberância do New Wave”. Entre as produções cinematográficas, ela cita duas: Funny Girl e Bonequinha de Luxo, que é um ícone. “Sempre que eu assisto fico super inspirada. Sempre gostei e assisto filmes antigos. Não é por causa da Mulher Vitrola. A minha mãe diz que nasci na época errada”, afirma, às gargalhadas.


Porta-make Mulher Vitrola

* Pausa para o papo-cabeça (?)

Guarda-Chuva Cultural - O que é moda para você?

Mulher Vitrola - Eu vejo a moda como uma maneira de se expressar. No meu caso, por exemplo, não quero passar desapercebida. Eu gosto de chamar a atenção. Não que eu saio já pensando nisso. É natural. As pessoas comentam, “nossa, como ela é diferente, como ela é fashion...” Para mim, minha forma de vestir é normal. Embora eu tenha consciência de que para muitas pessoas não é tão comum assim.
No fim das contas, moda é expressão mesmo. Você acaba tentando passar para as pessoas o que você é.

GCC - O que é fashion?

MV - Originalidade. Isso é superfashion. Não no sentido de ser totalmente diferente, mas de saber expressar o que você é, por originalidade mesmo, não por fardo.

GCC - Moda é futil?

MV - Não acho. Ser totalmente escravo da moda chega a ser fútil, mas cada pessoa tem um conceito diferente...
Se expressar não é futilidade, porque existem diferentes formas de expressão, como a arte, a música... moda é uma delas.

GCC - Podemos dizer então que moda é cultura?

MV - Eu acho que sim. Porque a cultura é desenvolvida a partir de expressões artísticas e sociais de determinado povo ou pessoa. Está muito relacionada com o querer mostrar, expressar ou marcar um fato.
Moda é a expressão de uma pessoa para outros. Até mesmo se você analisar o comportamento da sociedade em décadas anteriores, é possível identificar determinado período pela roupa da pessoa. “Ah, isso daí é década de 50". Quer dizer, é uma característica marcante, você logo identifica.

* Fim da pausa

O Nascimento da Mulher Vitrola
Do blog para o mundo da moda

No princípio, existia o Smack. “Criado de supetão. Mas o domínio expirou e eu fiquei sem blog”. Algum tempo depois, Renata decidiu criar uma página pessoal “diferente”, com tendências feministas. “Com os meus desabefes, histórias do cotidiano e de outras pessoas. A idéia era que as pessoas me mandassem e-mails e eu daria minha opinião sobre o que elas contassem.” No entanto, apesar de definida a abordagem, ainda não havia um título.

- Queria um nome em português, simples e que refletisse um pouco da minha personalidade. A primeira definição é que teria a palavra “mulher”. A segunda palavra teria que me representar... Foi quando lembrei que durante a minha infância, minha mãe falava assim: “você não para de falar, parece uma vitrola!” Por isso Mulher Vitrola. É a mulher que não para de falar! - diverte-se. A recepção não foi das melhores. Até hoje, muitas pessoas riem quando ouvem o título pela primeira vez. “Mas o nome pegou!”, rebate Renata.

Em paralelo à criação do blog, Renata passou a produzir e vender para conhecidos acessórios para o cabelo, bijuterias e bolsas com estampas de pequenos corações, cerejas, bolinhas e listras, em tons pastéis e muito rosa, com a intenção de “gerar uma grana extra”. Mais tarde, Rê observa que muitas pessoas começam a vender produtos através do Flickr, de fotologs e ela se interessa em expandir os negócios. As mercadorias eram a princípio expostas com o nome de Keyko Arte. Ainda bem que não demorou muito para os clientes-leitores condensarem o nome do blog e da loja virtual em um só. “Estava ficando muito desorganizado e resolvi juntar. Encaixou perfeitamente.”, comemora. O casamento não podia ser melhor: a pegada retrô das peças e o layout pin-up do blog são bastante harmônicos, apesar da nítida separação que Renata define entre a loja virtual e o espaço dos “desabefes”.

- As pessoas conseguem separar a loja virtual do site. Não são dependentes um do outro. O que existe é a Mulher Vitrola. O blog se tornou uma extensão dessa marca. - Apesar de não ter migrado para o mundo real, a loja já está completa. “Tenho-a toda montada em minha mente”, sonha a blogueira, que vende algumas das peças no estúdio “Supermarcados”, em Caxias, e através de encomendas por Flickr e Orkut.

Como loja virtual, a Mulher Vitrola expressa a moda de Renata Keyko. Como blog, é o espaço do cotidiano, de exposição do lado pessoal. Apesar de não conter comentários sobre histórias alheias como previa a idéia inicial, os “desabefes” da Vitrola continuam. “Tem muita nostalgia. São coisas que eu estou sentindo no momento, alguma música que eu tenha gostado... é muito pessoal, é a minha cara”. E define:

- Eu sou totalmente Mulher Vitrola.

Web-pitacos sobre o mundo da moda e temas afins
(ou o outro-mesmo-lado da Mulher Vitrola)

Recapitulando:

* Renata gosta de arte.
- Sou muito voltada para a expressão artística, isso me prende muito. Eu paro na rua para admirar quando vejo qualquer coisa que envolva arte, tenho paixão.

* Também gosta de internet.
- Tenho muita vontade de trabalhar na área de moda e computação. Tanto que o curso de webdesign veio do meu interesse por ferramentas da Internet, embora eu já tivesse alguns conhecimentos básicos que aprendi sozinha.

A união de interesses e habilidades, aliada ao autodidatismo, a levaram a criar o blog Ai Meu Dior!, que faz uma crítica bem-humorada sobre a moda dos famosos. “Quando um famoso saía na mídia com alguma roupa que chamasse minha atenção, eu amava ou odiava excessivamente”, conta Renata Keyko, explicando que o site está bastante desatualizado. “Quase ninguém conhece e eu tenho uma dificuldade absurda em matar meus blogs”, ri.

A atuação bloguística de Renata Keyko tem sido recompensada com convites para colaboradora em blogs de marcas reconhecidas vinculadas à moda, como a Ilhabela e a Capricho. O projeto de relacionamento com consumidoras Queens Ilhabela, desenvolvido pela empresa de sandálias vinculada à Grendene, selecionou meninas de todo o país para contribuir com o Blog das Queens no site http://www.universoilhabela.com.br/. A princípio, apenas 100 garotas foram convidadas a participar do projeto, que teve início em 2008. Renata estava entre elas e representou a marca, como Fashion Hunter, em um evento da revista Capricho chamado NoCapricho, realizado no Rio de Janeiro em julho do mesmo ano. [Nota do GCC: Cinthia Pascueto, autora deste post, também faz parte do projeto Queens e conheceu Renata durante este mesmo evento. Foi “Repórter Illhabela”].



Não por acaso, foi também selecionada para participar, ao longo de 2009, de um projeto da revista Capricho chamado “Tudo de Blog”, no qual 30 blogueiras são selecionadas para escrever a cada quinzena sobre um assunto especificado pela revista sobre atualidades, moda, comportamento, entre outros. As três melhores de cada período são publicadas. “As pessoas perguntam até se eu não saio da internet... mas eu faço outras coisas também”, brinca Renata.

O que cabe no Guarda-Chuva da Mulher Vitrola?

MV - FFFFound - é um site que eu gosto muito e visito sempre, um refúgio toda vez que não tenho inspiração. É de imagens e sempre tem muita coisa bacana. Você encontra ali imagens de todo tipo: voltado para o retrô, para o moderno... Está no topo dos meus favoritos.


Topa conhecer o Buraco?

Na minha terra, todo primeiro sábado do mês é dia de Buraco. Mas calma aí! Não é qualquer buraco não. Estou falando é do Buraco do Getúlio, cineclube que acontece mensalmente no Espaço Cultural Sylvio Monteiro, aqui em Nova Iguaçu, RJ. Sim, porque não temos Multiplex, mas temos Cineclube, o que é muito melhor! E o Buraco, como é carinhosamente chamado pelos freqüentadores (levando a piadinhas de duplo sentido), não é apenas um encontro voltado puramente para a exibição de filmes. Lá, acontecem as mais variadas intervenções artísticas. Além de cinema, tem teatro, música e poesia. O Buraco agrada sempre a todos os gostos.

Diego Bion, um dos fundadores do cineclube, conta que a idéia de criar o Buraco surgiu numa noite de bebedeira. Ele e uns amigos, já “mais pra lá do que pra cá”, estavam sentados na calçada diante de um bar quando tiveram a miragem e decidiram montar ali mesmo um espaço para a exibição de filmes. Nascia, assim, o Buraco do Getúlio.

− Como nós já produzíamos vídeos, pensamos em montar um cineclube, já que era algo que não existia aqui em Nova Iguaçu. A proposta era criar uma janela de exibição de filmes na cidade. No Brasil, produzimos muitos filmes, mas poucos chegam às salas de cinema. Portanto, talvez esse circuito de cineclube represente uma boa alternativa nesse sentido − destaca o dono do Buraco.

A primeira sessão aconteceu logo uma semana depois, no dia 04 de julho de 2006 (isso, isso, sábado que vem, ele comemora três anos de vida!), no Anania's Bar, também em Nova Iguaçu. Cada um trouxe uma coisa. Filmes, equipamento de som de segunda mão que o pai usava na DÉCADA DE 80 (mega guerreiro!!), e assim por diante. De qualquer forma, já a primeira sessão bombou mostrando que a coisa daria certo. O Buraco foi, então, crescendo e, em 2008, no aniversário de dois anos, mudou-se para o Espaço Cultural Sylvio Monteiro. Hoje, as sessões atraem uma média de 120 pessoas.

− De cara, a proposta do Buraco do Getúlio foi não ser um cineclube onde acontecesse apenas o cinema, mas sim ter o cinema como pretexto para trazer pessoas de outras linguagens. Nossa visão é tentar promover encontros. Por isso, trazemos uma galera de teatro, outra de circo, além de poetas e música − conta Bion, que também é professor na Escola Livre de Cinema de Nova Iguaçu.

Diferentemente do que a maioria imagina, o nome do cineclube vem de outro Getúlio que não é o Vargas, mas sim o Getúlio de Moura, engenheiro responsável pela expansão ferroviária na Baixada Fluminense. De acordo com Bion, “Buraco do Getúlio” é a forma carinhosa como as pessoas chamam a passagem sob a linha do trem que fica em frente à rua do Anania's Bar. O que o pessoal do Buraco fez foi aproveitar algo que já estava no inconsciente coletivo. Além disso, essa era uma forma de fazer ligação com a origem iguaçuana do cineclube.

"Getúlios" à parte, com quase, quase três anos de vida, o cineclube tornou-se super conhecido em Nova Iguaçu. Todo mês uma galerinha se reúne no Espaço Cultural para curtir curtas-metragens, intercalados por intervenções artísticas. Pode ser banda de rock, grafite ou performance poética. O Buraco do Getúlio é encontro. Começa às 8 horas da noite e vai até Deus sabe lá quando. Porque é tão bom que ninguém quer mais sair do Buraco.

Cineclube Buraco do Getúlio

Filiado a ASCINE-RJ (Associação de Cineclubes do Rio de Janeiro) e ao CNC (Conselho Nacional de Cineclubes), o cineclube Buraco do Getúlio é promovido pelo Núcleo de Arte e Criatividade - Laboratório Cítrico, associação cultural sediada em Nova Iguaçu - RJ, que se propõe a fomentar projetos de arte, cultura e educação. Acontece todo primeiro sábado do mês no Espaço Cultural Sylvio Monteiro, que fica na Rua Getúlio Vargas, 51, Centro, Nova Iguaçu.

MANIFESTO JORNATURASIA

estamos cansados!
computadores já compõe sinfonias
enquanto as manchetes sensacionais gritam gritus guturais.
estamos cansados do jornalismo caquético!
o mundo é zero e um e seis bilhões
e ainda não falamos de poesia matemática!!!

a álgebra das notícias contabiliza mortes a cada dia
somos palavras rasgadas, reportagens sem som, sem sal!

estamos cansados!
juramos pela nossa poesia, a santa poesia o sol de nossos dias
ainda as letras ganharão sons e os sons ganharão letras
e entraremos num mundo da percepção ampliada

estamos cansados!
e estamos com fome!

na JORNATURASIA
o que é cultura é poesia e o que é jornal é poesia

não se pode entrar no mesmo RIO duas vezes
nem se pode defecar no rio suas fezes
o meio-ambiente é inteiramente cheio de vida
estamos cansados de jornalismo sem poesia

NÃO EXISTEM FATOSNÃO EXISTE PONTOS FINAIS
não existem invenções

esse manifesto também não foi inventado

não existe ponto final, frases fortes, publicidade

SÓ existe A verdade única QUE invisível poesia INVIVÍVEL todo dia
cotidiano multiplano
música, teatro, dança, cinema, literatura

tudo muda / tudo grita

o silêncio é um ponto final

ESTAMOS CANSADOS!

ESTAMOS LIVRES!

(Taiyo Omura)

Sobre as pessoas legais que a gente conhece

Tem gente que vive fazendo arte, transmutando vida em arte, achando arte até mesmo no preto e branco do cotidiano. O Taiyo é assim. Tem 20 anos e, já há muito tempo, alimenta-se de poesia. Começou a escrever quando descobriu as meninas. O olhar infantil passava a adolescente. Aos 12, encantou-se por Fernando Pessoa. E, desde 2008, mantém um blog com mais de 300 poemas publicados. Taiyo Omura, menino dos olhos puxadinhos, é meu companheiro de estágio na Ancine (Agência Nacional de Cinema). Estuda cinema na UFF e música na UNIRIO. Faz teatro e escreve. Escreve com uma facilidade absurda.

− Meu primeiro guia de poesia foi o papelzinho das balas "ice-kiss". Aquilo me guiou, norteou a minha escrita. Mas a mudança mesmo foi aos 10, 11 ou 12, por aí, quando estava numa livraria e, impulsivamente, pedi pra minha mãe comprar o pocket-book do Fernando Pessoa. Vê se pode... Ler Pessoa com essa idade é estranho. Não estou me gabando aqui, até porque não entendia o que lia. Mas um sentimento ficava dentro de mim, como se eu fosse um dia usufruir melhor aquilo. A semente foi plantada ali − conta.

Hoje, Taiyo escreve quase todos os dias. Para ele, inspiração é apenas exercício. Se você exercita-se diariamente, seus sentidos ficam mais aguçados, num alerta constante sobre o cotidiano, e a vida vai se mostrando mais como poesia. Dica de quem acredita que escrever é mole. Tão mole que quer fazer uma porrada de livros. E o primeiro já sai agora no mês de agosto como comemoração de um ano de vida do blog.

Teatro de Improviso

O mais legal no Taiyo é que sua arte não está somente na poesia. Aos 10 anos, ele ingressou, pela primeira vez, no mundo do teatro. Numa aulinha na própria escola, encarnou o papel de "relâmpago", correndo de um lado para o outro no palco. Depois disso, não fez quase nada até o dia em que, anos mais tarde, conheceu o teatro de improviso.

− O IMPRO é a improvisação mais radical. É a criação de histórias, narrativas improvisadas, sem nenhuma combinação prévia, coletivamente, com sugestões do público. Tem um trabalho de dramaturgia, de roteiro, contar histórias, início, meio e fim, clímax, personagens. A história é que manda. Não é voltado para a piada. Não se vende fácil a piada. A graça está na própria construção "ao vivo" da história. Exige estudo de narrativa, e principalmente, aceitação, trabalho em grupo, sinergia. É um barato. Minha cachaça. Devia ser ensinado nas escolas públicas − revela ele que hoje está no quinto período de cinema e terceiro de música.

Conforme Taiyo explica, o IMPRO surgiu na Inglaterra com o dramaturgo Keith Johnstone. Johnstone era professor e passou a empregar o método nas escolas em que lecionava. Lá, ele entregava cadernos aos alunos, que escreviam o que desejassem para depois ler em voz alta. Mais tarde, o processo foi se desenvolvendo e os alunos começaram a encenar as histórias. Por volta dos anos 70, Johnstone foi para o Royal Court Theatre, em Londres. Foi aí então que o teatro de improviso começou de verdade. O dramaturgo queria um teatro menos careta, onde o público participasse e gritasse, como numa luta livre. Criou, assim, o Teatro-Esporte. Times competiam pela melhor história improvisada com sugestões do público, que escolhia a vencedora.

− O Keith foi estudando como uma cena improvisada podia ficar boa, os elementos e as características que os jogadores precisavam ter. Ele foi esmiuçando tecnicamente a improvisação até chegar em questões básicas. A primeira é obviamente: ACEITE. Se você entrar em cena, sem definir quem ou o quê é, e eu entrar e disser "Oh, meu deus! O leão fugiu da jaula!" e apontar pra você, VOCÊ É O LEÃO. É um estudo que vale para tudo na vida. Ensina a viver melhor.

Em IMPRO, Taiyo já participou de vários espetáculos, como, por exemplo, o Campeonato Carioca de IMPRO, o TEATRO DO NADA, os IMPROVINSANOS e os IMPROSSÌVEIS. Entre esses, no entanto, atuou apenas no Campeonato e nos IMPROVINSANOS. Nos demais, tocava ao vivo, improvisando a própria música.

− Todos são muito interessantes e divertidos. Depois que as pessoas descobrem esses espetáculos, a idéia de teatro muda. É um outro caminho − conclui ele que é a multi-referencialidade artística em pessoa.

E a gente só agradece por conhecer pessoas assim.



Hey ho, let's go!

Esse guarda-chuva que vos fala nasceu em uma certa aula de Jornalismo Cultural. Sua gestação começou ainda no início do período. A princípio, as dez mãos que aqui escrevem acharam bem bacana a idéia de falar das manifestações culturais das quais quase nunca, ou nunca mesmo, se fala na grande imprensa. Tempo passando, o projeto ficou esquecido na gaveta da memória.

E foi ser relembrado em momento tenso: final de período. É, precisávamos abrir o guarda chuva. Mas aí cada um fez uma crítica diferente àquela idéia inicial e, por pouco, ela não vinga. Cinco cabeças pensantes, sem dúvidas, criam mais do que uma. Porém, brigam. E como brigam... Acertados todos os ponteiros, quem ganhou foi o guarda chuva. Pois aqui está ele, pronto tanto para dilúvio quanto para garoa de fim de tarde.

Nosso guarda-chuva pretende reunir diferentes gostos e idéias, sem muitas pretensões. Sabe aquela banda que tem um som maneiro e quase ninguém conhece? Ou aquele poeta que ainda não virou Drummond? Cá neste blog, eles ganham espaço. Em uma linguagem descontraída, queremos fazer caber de tudo por aqui, faça sol ou faça chuva.

Ps.: Você também pode contribuir. Se conhece alguém com um trabalho legal e que esteja a fim de divulgação, é só entrar em contato com a gente. Pode ser por sinal de fumaça ou por esse e-mail aqui:
guardachuva.cultural@gmail.com. Diz aí o que cabe no seu guarda-chuva cultural!