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Topa conhecer o Buraco?

Na minha terra, todo primeiro sábado do mês é dia de Buraco. Mas calma aí! Não é qualquer buraco não. Estou falando é do Buraco do Getúlio, cineclube que acontece mensalmente no Espaço Cultural Sylvio Monteiro, aqui em Nova Iguaçu, RJ. Sim, porque não temos Multiplex, mas temos Cineclube, o que é muito melhor! E o Buraco, como é carinhosamente chamado pelos freqüentadores (levando a piadinhas de duplo sentido), não é apenas um encontro voltado puramente para a exibição de filmes. Lá, acontecem as mais variadas intervenções artísticas. Além de cinema, tem teatro, música e poesia. O Buraco agrada sempre a todos os gostos.

Diego Bion, um dos fundadores do cineclube, conta que a idéia de criar o Buraco surgiu numa noite de bebedeira. Ele e uns amigos, já “mais pra lá do que pra cá”, estavam sentados na calçada diante de um bar quando tiveram a miragem e decidiram montar ali mesmo um espaço para a exibição de filmes. Nascia, assim, o Buraco do Getúlio.

− Como nós já produzíamos vídeos, pensamos em montar um cineclube, já que era algo que não existia aqui em Nova Iguaçu. A proposta era criar uma janela de exibição de filmes na cidade. No Brasil, produzimos muitos filmes, mas poucos chegam às salas de cinema. Portanto, talvez esse circuito de cineclube represente uma boa alternativa nesse sentido − destaca o dono do Buraco.

A primeira sessão aconteceu logo uma semana depois, no dia 04 de julho de 2006 (isso, isso, sábado que vem, ele comemora três anos de vida!), no Anania's Bar, também em Nova Iguaçu. Cada um trouxe uma coisa. Filmes, equipamento de som de segunda mão que o pai usava na DÉCADA DE 80 (mega guerreiro!!), e assim por diante. De qualquer forma, já a primeira sessão bombou mostrando que a coisa daria certo. O Buraco foi, então, crescendo e, em 2008, no aniversário de dois anos, mudou-se para o Espaço Cultural Sylvio Monteiro. Hoje, as sessões atraem uma média de 120 pessoas.

− De cara, a proposta do Buraco do Getúlio foi não ser um cineclube onde acontecesse apenas o cinema, mas sim ter o cinema como pretexto para trazer pessoas de outras linguagens. Nossa visão é tentar promover encontros. Por isso, trazemos uma galera de teatro, outra de circo, além de poetas e música − conta Bion, que também é professor na Escola Livre de Cinema de Nova Iguaçu.

Diferentemente do que a maioria imagina, o nome do cineclube vem de outro Getúlio que não é o Vargas, mas sim o Getúlio de Moura, engenheiro responsável pela expansão ferroviária na Baixada Fluminense. De acordo com Bion, “Buraco do Getúlio” é a forma carinhosa como as pessoas chamam a passagem sob a linha do trem que fica em frente à rua do Anania's Bar. O que o pessoal do Buraco fez foi aproveitar algo que já estava no inconsciente coletivo. Além disso, essa era uma forma de fazer ligação com a origem iguaçuana do cineclube.

"Getúlios" à parte, com quase, quase três anos de vida, o cineclube tornou-se super conhecido em Nova Iguaçu. Todo mês uma galerinha se reúne no Espaço Cultural para curtir curtas-metragens, intercalados por intervenções artísticas. Pode ser banda de rock, grafite ou performance poética. O Buraco do Getúlio é encontro. Começa às 8 horas da noite e vai até Deus sabe lá quando. Porque é tão bom que ninguém quer mais sair do Buraco.

Cineclube Buraco do Getúlio

Filiado a ASCINE-RJ (Associação de Cineclubes do Rio de Janeiro) e ao CNC (Conselho Nacional de Cineclubes), o cineclube Buraco do Getúlio é promovido pelo Núcleo de Arte e Criatividade - Laboratório Cítrico, associação cultural sediada em Nova Iguaçu - RJ, que se propõe a fomentar projetos de arte, cultura e educação. Acontece todo primeiro sábado do mês no Espaço Cultural Sylvio Monteiro, que fica na Rua Getúlio Vargas, 51, Centro, Nova Iguaçu.

MANIFESTO JORNATURASIA

estamos cansados!
computadores já compõe sinfonias
enquanto as manchetes sensacionais gritam gritus guturais.
estamos cansados do jornalismo caquético!
o mundo é zero e um e seis bilhões
e ainda não falamos de poesia matemática!!!

a álgebra das notícias contabiliza mortes a cada dia
somos palavras rasgadas, reportagens sem som, sem sal!

estamos cansados!
juramos pela nossa poesia, a santa poesia o sol de nossos dias
ainda as letras ganharão sons e os sons ganharão letras
e entraremos num mundo da percepção ampliada

estamos cansados!
e estamos com fome!

na JORNATURASIA
o que é cultura é poesia e o que é jornal é poesia

não se pode entrar no mesmo RIO duas vezes
nem se pode defecar no rio suas fezes
o meio-ambiente é inteiramente cheio de vida
estamos cansados de jornalismo sem poesia

NÃO EXISTEM FATOSNÃO EXISTE PONTOS FINAIS
não existem invenções

esse manifesto também não foi inventado

não existe ponto final, frases fortes, publicidade

SÓ existe A verdade única QUE invisível poesia INVIVÍVEL todo dia
cotidiano multiplano
música, teatro, dança, cinema, literatura

tudo muda / tudo grita

o silêncio é um ponto final

ESTAMOS CANSADOS!

ESTAMOS LIVRES!

(Taiyo Omura)

Sobre as pessoas legais que a gente conhece

Tem gente que vive fazendo arte, transmutando vida em arte, achando arte até mesmo no preto e branco do cotidiano. O Taiyo é assim. Tem 20 anos e, já há muito tempo, alimenta-se de poesia. Começou a escrever quando descobriu as meninas. O olhar infantil passava a adolescente. Aos 12, encantou-se por Fernando Pessoa. E, desde 2008, mantém um blog com mais de 300 poemas publicados. Taiyo Omura, menino dos olhos puxadinhos, é meu companheiro de estágio na Ancine (Agência Nacional de Cinema). Estuda cinema na UFF e música na UNIRIO. Faz teatro e escreve. Escreve com uma facilidade absurda.

− Meu primeiro guia de poesia foi o papelzinho das balas "ice-kiss". Aquilo me guiou, norteou a minha escrita. Mas a mudança mesmo foi aos 10, 11 ou 12, por aí, quando estava numa livraria e, impulsivamente, pedi pra minha mãe comprar o pocket-book do Fernando Pessoa. Vê se pode... Ler Pessoa com essa idade é estranho. Não estou me gabando aqui, até porque não entendia o que lia. Mas um sentimento ficava dentro de mim, como se eu fosse um dia usufruir melhor aquilo. A semente foi plantada ali − conta.

Hoje, Taiyo escreve quase todos os dias. Para ele, inspiração é apenas exercício. Se você exercita-se diariamente, seus sentidos ficam mais aguçados, num alerta constante sobre o cotidiano, e a vida vai se mostrando mais como poesia. Dica de quem acredita que escrever é mole. Tão mole que quer fazer uma porrada de livros. E o primeiro já sai agora no mês de agosto como comemoração de um ano de vida do blog.

Teatro de Improviso

O mais legal no Taiyo é que sua arte não está somente na poesia. Aos 10 anos, ele ingressou, pela primeira vez, no mundo do teatro. Numa aulinha na própria escola, encarnou o papel de "relâmpago", correndo de um lado para o outro no palco. Depois disso, não fez quase nada até o dia em que, anos mais tarde, conheceu o teatro de improviso.

− O IMPRO é a improvisação mais radical. É a criação de histórias, narrativas improvisadas, sem nenhuma combinação prévia, coletivamente, com sugestões do público. Tem um trabalho de dramaturgia, de roteiro, contar histórias, início, meio e fim, clímax, personagens. A história é que manda. Não é voltado para a piada. Não se vende fácil a piada. A graça está na própria construção "ao vivo" da história. Exige estudo de narrativa, e principalmente, aceitação, trabalho em grupo, sinergia. É um barato. Minha cachaça. Devia ser ensinado nas escolas públicas − revela ele que hoje está no quinto período de cinema e terceiro de música.

Conforme Taiyo explica, o IMPRO surgiu na Inglaterra com o dramaturgo Keith Johnstone. Johnstone era professor e passou a empregar o método nas escolas em que lecionava. Lá, ele entregava cadernos aos alunos, que escreviam o que desejassem para depois ler em voz alta. Mais tarde, o processo foi se desenvolvendo e os alunos começaram a encenar as histórias. Por volta dos anos 70, Johnstone foi para o Royal Court Theatre, em Londres. Foi aí então que o teatro de improviso começou de verdade. O dramaturgo queria um teatro menos careta, onde o público participasse e gritasse, como numa luta livre. Criou, assim, o Teatro-Esporte. Times competiam pela melhor história improvisada com sugestões do público, que escolhia a vencedora.

− O Keith foi estudando como uma cena improvisada podia ficar boa, os elementos e as características que os jogadores precisavam ter. Ele foi esmiuçando tecnicamente a improvisação até chegar em questões básicas. A primeira é obviamente: ACEITE. Se você entrar em cena, sem definir quem ou o quê é, e eu entrar e disser "Oh, meu deus! O leão fugiu da jaula!" e apontar pra você, VOCÊ É O LEÃO. É um estudo que vale para tudo na vida. Ensina a viver melhor.

Em IMPRO, Taiyo já participou de vários espetáculos, como, por exemplo, o Campeonato Carioca de IMPRO, o TEATRO DO NADA, os IMPROVINSANOS e os IMPROSSÌVEIS. Entre esses, no entanto, atuou apenas no Campeonato e nos IMPROVINSANOS. Nos demais, tocava ao vivo, improvisando a própria música.

− Todos são muito interessantes e divertidos. Depois que as pessoas descobrem esses espetáculos, a idéia de teatro muda. É um outro caminho − conclui ele que é a multi-referencialidade artística em pessoa.

E a gente só agradece por conhecer pessoas assim.