Confiram agora a entrevista com o concorrente à Garagem do Faustão. E aí, será que ele conquista o público?
Guarda-Chuva Cultural - Quem é Vitor Dulfe?
Vitor Dulfe - Como profissional, levo tudo na seriedade, sou muito perfeccionista. Música é o trabalho da minha vida, então tem que estar perfeito. E eu só trabalho com arte. Se não é música, é imagem.
GCC - Como surgiu seu interesse pela música?
VD - Na minha família não tinha músico. O único que eu soube, que tocava muito bem um violãozinho, era o avô da minha avó. Eu morava em um lugar muito pobre, em um morro de Guadalupe. Num lugar como esse, não tem acesso à música, teatro, cinema, nada. Então foi uma coisa meio predestinada mesmo.
Descobri a música de uma forma engraçada. Na minha época, as crianças tinham um estojo que vinha com um tecladinho. Eu, com seis anos de idade, assistia propagandas e tocava os jingles no estojo, de ouvido. Minha mãe achou isso legal e começou a investir. Fiz aulas de piano clássico dos 8 aos 11 anos de idade. Eu sempre tive muito jeito. Meu irmão mais novo, por me ver tocando, também queria aprender algum instrumento. Ele fez aulas de bateria, flauta transversa...só de observar, eu aprendia também. Pra você ver como é aptidão mesmo.
GCC - Você chegou a montar alguma banda infantil nessa época?
VD - Não foi possível montar uma banda. Todo mundo queria ficar na rua soltando pipa, enquanto eu era “o” diferente. Por isso, eu larguei a música por um bom tempo. Até que fui para São Gonçalo.
GCC - Por que São Gonçalo?
VD - São Gonçalo é conhecida como a cidade dos músicos. Até por coincidência, São Gonçalo é um santo músico. Lá, em cada esquina, você encontra um músico. Aí me apaixonei pela cidade. Lá, eu fiz dois amigos, o Márcio e o Marcelo, que tocavam violão. Por acompanhá-los, voltei para a música e comecei a aprender com eles a tocar violão, lendo revistinha cifrada.
GCC -Quantos instrumentos você toca?
VD - Profissionalmente, eu toco violão e guitarra. Mas sou também clarinetista. Toco teclado, piano...mas música não é que nem bicicleta, né? Sem prática você esquece. Eu lembro apenas o básico do piano. Além de cantar.
GCC - Que diferente! Clarinetista?
VD - O engraçado é que clarinete é um instrumento clássico, né? Aprendi esse instrumento porque queria fazer um segundo grau legal, mas a minha família não tinha condições para pagar um bom colégio. Então corri atrás de alguma escola que tivesse uma banda e pudesse me ensinar algum instrumento clássico – sabia que tinham escolas que davam bolsas de estudos. Então entrei para a Escola Municipal Castelo Branco, que tinha uma orquestra de graça. Estudei seis meses lá para aprender clarinete. Depois disso, fiz um teste para um colégio particular de São Gonçalo e passei com bolsa de 100%. Fiz todo o segundo grau de graça. Eu pensei: é o dom que eu tenho, a facilidade que eu tenho, então vou explorar isso para ter um bom estudo.
GCC - Você também fez propagandas, não é mesmo?
VD - Já fiz jingle para empresas...eu gravava todas as vozes, da grave à aguda. É legal por desenvolver diferentes estilos de trabalho vocal. Às vezes tinha que fazer uma gravação engraçada, como uma propaganda para supermercado, em outras uma coisa mais séria...Ali você tem que ser um cantor e ao mesmo tempo um personagem. Mas tem muito tempo que eu não faço. Na época, eu tinha 20 anos. Ganhava mais tocando que produzindo jingle.
GCC - Com que idade começou a tocar profissionalmente?
VD - Comecei profissionalmente como músico aos 17 anos. Uma cantora precisava de um violonista pra tocar na noite e comecei a acompanhá-la. Nisso, um músico vai conhecendo o outro, convidando para tocarem juntos e assim vai. Até que me tornei profissional e montei a minha banda, aproveitando os contatos que eu já tinha quando fazia violão e voz.
GCC - Qual a sua banda atual?
VD - Atualmente, estou na banda Kárdia, formada há pouco tempo em parceria com um amigo. O Gláucio (Nunes, vocalista) estava saindo da Quark e eu desmontando a minha, chamada Radar, que durou sete anos. Nós tocamos juntos em uma banda anterior e todos sempre elogiavam nossa parceria. Tivemos então a idéia de montar de novo a nossa banda. Chamei dois caras que conheci num freelancer há sete anos e queriam trabalhar comigo. Ficou perfeito agora, é o trabalho dos sonhos. Essa é a Kárdia.
GCC - O que significa Kárdia?
VD - É uma invenção minha. Como 90% das minhas são românticas, eu queria um nome que fosse ligado a sentimento. Kárdia é uma palavra grega, do período antes de Cristo, que significa coração. Hoje representa uma área próxima ao estômago ou algo assim. Mas antes era coração o que, para mim, é como música: sentimento, tempo, pulsação, ritmo.
Kárdia é sentimento, que é o que eu componho.
GCC - Qual a formação da Kárdia?
VD - Gláucio Nunes, no vocal; Diogo Feitosa é o baterista; Cadu Evans, baixista; Rodrigo Pelot na guitarra e eu, Vitor Dulfe, no violão, guitarra e vocal.
GCC – Em quantas bandas você tocou?
VD - Já toquei em 4 bandas, fora participações freelancer.
GCC – Quantas músicas já compôs?
VD - Devo ter umas cinquenta músicas. Isso porque é esporádico. 90% das músicas que faço contam sobre a minha vida. Mas de maneira abstrata, para que ninguém entenda exatamente o que está acontecendo.
GCC -Por que você prefere tocar com banda, em vez de investir apenas na carreira solo?
VD - Todo mundo fica perguntando porque eu não faço só violão e voz. É porque eu não gosto de tocar sozinho. Posso estar cantando e tocando, mas vou chamar um baterista. Ou eu só toco e arranjo alguém para cantar. Sou carente (risos).
GCC – Então por que resolveu se inscrever na “Garagem do Faustão”?
VD - Eu me dediquei muito à Radar, vivi para ela o tempo inteiro. Mas nunca me vi como cantor. Quando eu saí da banda, fiquei sem chão, sem ter com quem tocar. Fazia um “freela” o outro, mas não tinha a identidade de uma banda. Até que as pessoas começaram a perguntar “por que você não investe no vocal?”
A minha primeira manifestação como cantor foi a inscrição na primeira edição de “Ídolos”. No fim das contas, entre todos os amigos que se inscreveram, apenas eu passei nas três primeiras eliminatórias. Mas na quarta fase achei tão ridículas aquelas seleções, com gente indo fantasiada, cantando feito idiota e passar, que eu não fui mais. Achei uma babaquice.
Três anos depois veio a Garagem do Faustão. Fiz a inscrição com meu trabalho solo, porque tenho muita música romântica além das pop’s. É tanta gente falando para eu gravar um CD que resolvi fazer isso. Tenho um estudiozinho em casa e gravei as músicas com violão e voz. Fiz todas as vozes e violões. Ficou a minha cara. Ainda estou gravando, vamos ver se a gente fecha um cd aí.
GCC – “Ídolos”, “Garagem do Faustão”... Quais as suas expectativas ao participar desses programas?
VD - Eu não espero nada da Garagem do Faustão. A inscrição foi por influência da minha família, que me dá o maior apoio. Mas eu me decepcionei muito com o programa. Porque o que ganha são as palhaçadas, enquanto tem muita banda com um trabalho sério - e eu não estou nem falando da minha, tem muitas bandas melhores. Por isso eu nem acompanho. Apesar de tudo, acho que é uma vitrine bacana. Tanto que uma cantora participante do programa vai ter uma música na novela. E isso eu acho bacana, porque todo mundo fala que minha música tem cara de novela.
O importante é abrir a porta da mídia e depois manter. Se eu puder fazer isso com meu trabalho solo, depois consigo abrir outra para minha banda, que é meu objetivo.
GCC – Quais são suas influências musicais?
VD - Gosto muito do rock inglês e irlandês. Muitas das bandas que eu curto não são nem conhecidas no Brasil. Sou um caçador de músicas novas, ouço muito a rádio de outros países pela internet. O Som da Kárdia, inclusive, é um pop muito parecido com o lá de fora - não tanto com o daqui. Não é uma banda “emo” ou “Paralamas” (do Sucesso). Está mais próxima de U2, Nine Days, Fuel.
GCC - O que é fama pra você?
VD - Eu não quero fama. Quero meu trabalho reconhecido. Como a Marisa Monte, Nando Reis e Zélia Duncan, que não precisam aparecer na televisão para isso.
Eu quero ter sucesso no meu trabalho. Ter fama seria ótimo, eu ia adorar dar autógrafo, ter a mulherada em cima (risos)... Mas não faço questão desse alarde. Eu gostaria de poder viver do meu talento.
GCC – O que você faria se fosse famoso?
VD - Se um dia eu fizesse um show e visse todas aquelas pessoas cantando a minha música, eu não ia agüentar. Teria que sair do palco e choraria de emoção. Mas não faço questão nenhuma de aparecer no Faustão. Queria sim, que minha música tocasse nas rádios.
Se bem que não existe banda com músicas conhecidas que seja “anônima”. Ainda mais que no caso da Kárdia. Nosso trabalho é muito pop, o que poderia alcançar de forma fácil todas as classes. Então estaria no Faustão, no Gugu, nesses programas todos. Mas isso é conseqüência.
GCC - O que a música representa pra você?
VD - Se eu pudesse, viveria apenas de música. Entretanto, quero ter meu carrinho, ter meu dinheiro para o fim de semana. Viver de música é muito instável e complicado. Eu estou numa época fantástica. Mas tenho amigos músicos que às vezes estão ótimos financeiramente e em outras sem ter onde trabalhar.
A música é uma cultura universal, não tem quem não goste de música.
GCC - O que é cultura?
VD - A cultura depende de onde você está, dos costumes, regiões. Cultura é tudo. É adaptação ao lugar onde você vive.
GCC - Mainstream ou Underground?
VD - Meu trabalho é totalmente comercial. São letras fáceis, refrões fáceis, totalmente vendáveis. Mas bem-feito. Tanto meu trabalho solo quanto a Kárdia. Não há duvidas.
GCC - No Guarda-Chuva de Vitor Dulfe cabe...
VD - Nine Days é uma ótima banda pop inglesa, que era pra estar tocando por aqui.
Outra banda que gosto muito e influenciou demais o meu trabalho chama-se Vertical Horizon. Essa é a banda que deu o empurrãozinho para criar o meu trabalho e definir meu estilo musical.
Quem tiver se interessado em conhecer mais sobre a banda KARDIA pode conferir algumas músicas no Trama Virtual ou dar uma passadinha no My Space. O Vitor só contou dias depois da entrevista que está com a galera do KARDIA no concurso "Olha a minha banda" no Caldeirão do Huck. Nessa brincadeira, ele assume o vocal.
Depois vem contar pra gente o que você achou.
E aí? O que cabe no seu guarda-chuva?
2 comentários:
Gostei muito de como a entrevista foi conduzida!
Parece que o guarda-chuva rosa e rendado sabe fazer uma chuva de boas perguntas e consegue uma enxurrada de boas respostas!
Excelente exemplo de músico do Brasil.
Gostei...
Victor, Parabéns e Sucesso!!!
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